Introdução

2.1. CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS EM RECIPIENTES E JARDINS (PEQUENOS ESPAÇOS).
Existem poucos trabalhos na literatura em relação ao cultivo de plantas medicinais em recipientes e jardins.
Muito antes da era cristã, na região mediterrânea e no Extremo Oriente, cultivavam-se plantas em jardins em razão de sua beleza; os gregos e os romanos, no apogeu de sua civilização, cultivavam plantas em vasos nos pátios e nas casas. Mas é depois da descoberta da América que a “jardinagem em interiores” se inicia verdadeiramente, essencialmente com espécies do Oriente e das Américas (Seddon, G.,1980).
Pode-se cultivar a terra mesmo que não tenha um sítio. A sacada do apartamento, o parapeito da janela, o corredor da área de serviço, um pedacinho do jardim ou mesmo alguns vasos no canto da sala podem ser suficientes (Guia Rural, 1990). Qualquer recipiente resistente à umidade, como vasos de cerâmica, sacos plásticos, latas, tubos plásticos cortados etc., pode ser usado (Makishima, N., 1993).
Existem inúmeras pessoas que plantam para o seu uso próprio consumo (Encontro Estadual sobre Plantas Medicinais, 1996). Durante o ano todo, essas pessoas têm ervas frescas, de ótima qualidade, cuidadas por suas próprias mãos, praticamente de graça (Afitema, 2007).
Para produção em pequenas áreas, quando se deseja o uso caseiro, é possível produzir quase todas as plantas medicinais, pois as variações que ocorrerão no valor medicinal não trarão grandes prejuízos ao usuário. De qualquer maneira, para uso caseiro, deve escolher plantas que já ocorrem na sua região, pois estas, com certeza, já estão aclimatadas no seu local (Programa Municipal Fitoviva, 2008).
As necessidades das plantas permanecem constantes mesmo quando seu ambiente muda radicalmente. Uma planta num vaso, cultivada em apartamento, encontra-se em condições absolutamente artificiais, e, por maiores que sejam suas qualidades de adaptação, elas têm limites. Dentro desses limites, o papel de quem as cultiva é substituir a natureza na satisfação de suas necessidades (Seddon, G.,1980).
Todas as plantas vivem e crescem basicamente do mesmo modo. As suas necessidades essenciais são ar, luz, água, sais minerais e uma gama de temperaturas adequadas. Requerem, além disso, um meio apropriado no qual possam desenvolver raízes (Kindersley, D., 1984).
O fato de determinada espécie exigir ar seco ou úmido, luz forte ou fraca, rega abundante ou escassa, temperatura elevada ou baixa, uma mistura de envasar ácida ou alcalina dependerá do habitat original dessa mesma espécie (Kindersley, D., 1984).
A luz corre sempre o risco de ser insuficiente num apartamento, o ar demasiado seco e, nos ambientes aquecidos, demasiado, quente. Sem contar que, com bastante freqüência, assim como acontece conosco, uma planta tem necessidade de repouso, e esse período de dormência deve ser respeitado. A lição mais difícil de aprender é não regar em excesso. É preciso, além disso, utilizar um composto de boa qualidade (Seddon, G.,1980).
O importante é considerar o meio ambiente onde se pretende plantar e escolher a planta que lhe seja apropriada (Kindersley, D., 1984).
As plantas medicinais, aromáticas e condimentares fazem parte da atividade hortícola (Pereira Pinto, J. E. B. et al., 2001), sendo, portanto o seu cultivo muito semelhante ao cultivo de uma hortaliça.
Uma planta é um ser vivo fascinante que reagirá a todos os cuidados que lhe dispensar (Kindersley, D., 1984).

2.1.1 – LUZ
A chave de toda a atividade que mantém uma planta viva e em crescimento é o processo denominado fotossíntese. A fotossíntese, que fornece à planta a energia que ela necessita, ocorre em resultado a ação da luz sobre o pigmento verde, a clorofila, presente não só nas folhas e nos caules verdes, como também nas plantas coloridas por outros pigmentos (Kindersley, D., 1984).
Nos seus habitats naturais, as plantas adaptaram-se a quantidades de luz muitíssimo diversas. Plantas que vivem ao nível do solo em florestas tropicais úmidas, por exemplo, florescem a sombra, enquanto os cactos no deserto precisam e recebem plena luz solar. Deve-se proporcionar a cada planta a quantidade de luz que ela requer para se manter saudável e crescer convenientemente (Kindersley, D., 1984).
Direta ou indireta, intensa ou branda, toda planta precisa de luz. Quando a luz é insuficiente, a planta procura espichar seus caules empalidecidos na direção de onde provém sua minguada ração. Depois de uma fase de “anemia” mais ou menos prolongada, acaba morrendo. Sem luz apropriada não há nutrição nem crescimento e nem floração normais para nenhuma planta (Pereira, A., 1978).
Dentro de casa, o melhor lugar para o cultivo de ervas é na varanda ou num peitoril de janela, ou ainda perto dela, por causa da luz solar e do ar fresco (Afitema, 2007).
Qualquer local em que incida pelo menos 5 horas de sol, bem drenado e protegido de ventos frios e fortes, para que as plantas cresçam com vigor, pode ser utilizado para a instalação de uma horta medicinal ou até colocar algum recipiente (Programa Municipal Fitoviva, 2008).
Mesmo em locais onde a iluminação é deficiente (3 a 4 horas de sol), pode-se plantar em vasos, espécies tais como hortelã, poejo, melissa ou menta (Programa Municipal Fitoviva, 2008).
O essencial é observar se a área disponível recebe diretamente a luz do sol pelo menos durante 2 horas por dia – quanto mais sol, melhor (Guia Rural, 1990).
Para quem mora em casas é relativamente fácil achar pontos suficientemente iluminados para o cultivo de ampla variedade de plantas. Mas os habitantes de apartamentos têm menos opções e muitos deles terão de recorrer à iluminação artificial (Pereira, A., 1978).
Mesmo recorrendo à luz artificial, não se pode esperar reproduzir as condições de luminosidade que a planta consegue em seu meio natural. Numa casa, existe sempre menos luz do que fora (Seddon, G.,1980).
Embora animados pelas melhores intenções, deixamos ao tempo que nos diga se ignoramos ou não as exigências de nossa planta amiga. Os sinais de nosso erro podem ser flagrantes – a morte da planta – ou mais sutis: a planta se resseca e suas folhas permanecem pequenas, as folhas velhas amarelecem, as variegadas se tornam completamente verdes, e as flores nunca desabrocham. Se você detectar um desses sinais, coloque a planta num lugar mais iluminado; mas, atenção: uma mudança demasiado brutal pode ser prejudicial à planta (Seddon, G.,1980).
A maneira mais segura de verificar se uma determinada posição é indicada para uma planta no que respeita ao fator luz é, obviamente, por meio de um fotômetro. No entanto, a quantidade é apenas parte do problema (Kindersley, D., 1984).
As janelas de face norte são as mais bem iluminadas; a seguir vem as de face leste ou oeste, que receberão luz solar direta só de manhã ou de tarde. A luz que entra por essas janelas varia consideravelmente de acordo com as horas, em função da trajetória do sol no céu. Em compensação, a luz de uma janela de face sul, embora mais fraca, é mais constante (Seddon, G.,1980).
De preferência, a produção deve estar voltada para a face norte, já que oferece mais luz e mais calor. A face sul não é recomendada, exceto para espécies adaptadas a climas mais amenos como camomila, calêndula, guaco e dedaleira, já que favorece aos ventos frios. (Programa Municipal Fitoviva, 2008).
As plantas também respondem às modificações na proporção de luz e escuridão dentro de um ciclo de 24 horas. Esse comportamento é chamado fotoperiodismo. Em muitas espécies o fotoperíodo é o responsável pela germinação das sementes, desenvolvimento da planta e formação de bulbos ou flores (Corrêa Junior, C. et al., 2006). As inúmeras plantas originárias dos trópicos estão acostumadas a dias e noites de duração quase igual, por isso as longas noites das latitudes extremas podem não lhes ser benéficas (Seddon, G.,1980).
A influência da luz nas plantas medicinais pode ser observada em vários trabalhos científicos.
Em geral, a redução do fotoperíodo tem sido associado com decréscimo significativo no teor de óleo essencial, e em algumas plantas afetando a composição do óleo (Pereira Pinto, J. E. B. et al., 2001).
A produção de biomassa em tanchagem (Plantago major L.), apresentou efeito significativo da intensidade luminosa, onde a produção de matéria seca e fresca em toda a planta, de folhas e inflorescência foi influenciada pelas condições de luminosidade, sendo mais expressivas em maior luminosidade (Pereira Pinto, J. E. B. et al., 2001).

2.1.2 – TEMPERATURA E UMIDADE
Todas as plantas crescem melhor dentro de uma determinada gama de temperaturas. A maioria pode também tolerar temperaturas ligeiramente superiores ou inferiores aos níveis preferidos, mas morrerá se for exposta durante demasiado tempo a temperaturas fora dessa gama (Kindersley, D., 1984).
Deve-se saber quais são as condições climáticas ideais de cultivo de cada espécie. Por exemplo: a camomila é cultivada no inverno, já o capim limão se desenvolve melhor em climas quentes (Corrêa Junior, C. et al., 2006).
Não convém de um modo geral, expor as plantas a menos de 10º C (embora possam resistir a frio de 5ºC) e nem a mais de 25ºC. Temperaturas muito altas são toleradas só pelas plantas que exigem luz mais abundante do que a que normalmente existe no interior da casa (Pereira, A., 1978).
No tempo frio, uma planta colocada junto de uma janela estará exposta as correntes de ar ou a frio excessivo (Kindersley, D., 1984). O ar rente ao chão é mais frio do que à altura das mesas, outro ponto a considerar (Pereira, A., 1978).
Em solos que oferecerem empecilhos à expansão radicular e com isso à absorção de água, como é o caso do cultivo em recipientes, e em plantas que forem nutridas de maneira incompleta, durante o calor do dia, a fotossíntese será muito reduzida (Primavesi, A., 2002).
A temperatura influencia também a formação de clorofila, cujo nível ótimo é ligeiramente superior ao exigido para o crescimento da planta. Quando essa temperatura não é atingida as plantas se desenvolvem, porém possuem uma coloração amarelada, característica da formação insuficiente de clorofila (Pereira Pinto, J. E. B. et al., 2001).
A umidade é a quantidade relativa de vapor de água contido no ar e não tem qualquer relação com a umidade do solo. A umidade do ar é medida numa escala de umidade relativa, que vai de 0% (ar absolutamente seco) a 100% (ar saturado). O objetivo deverá ser um nível geral da ordem dos 60%. Esteja atento ao aparecimento de pontas de folhas secas em plantas de folhas longas e estreitas, este é o sintoma comum de umidade insuficiente em redor da planta (Kindersley, D., 1984).
Como a água é um elemento essencial para a vida e o metabolismo das plantas, supõe-se que em ambientes úmidos a produção de princípios ativos seja maior. Porém, alguns estudos mostraram que nem sempre isto é verdadeiro. Alguns trabalhos revelaram que a água reduz o teor de alcalóides produzidos em algumas espécies, como em solanáceas (Datura e Atropa). Com relação aos óleos essenciais, parece ocorrer o contrário, onde de uma maneira geral, se observa um aumento na sua concentração em menor teor de água, como ocorre em capim limão (Cymbopogum citratus) (Corrêa Junior, C. et al., 2006; Pereira Pinto, J. E. B. et al., 2001).
Quanto mais finas e mais semelhantes a papel forem as folhas de uma planta, tanto maior será a probabilidade de ela necessitar de uma umidade ambiente elevada. Por outro lado, as folhas espessas e coriáceas suportam melhor o ar seco (Kindersley, D., 1984).
Os jardineiros conseguem elevar a umidade atmosférica nas estufas salpicando o chão com água. Outra maneira é pulverizar com água o ar ao redor das plantas pelo menos uma vez por dia, de preferência de manhã (Kindersley, D., 1984).

2.1.3 – AR
Ao permitir a circulação de ar em torno das plantas de interior, é preciso ter o cuidado de não sujeita-las a mudanças bruscas de temperaturas e muito menos a correntes (Pereira, A., 1978).
O ar é necessário às folhas e as raízes das plantas. Revolver a superfície da terra em torno das plantas ajuda a suprir de ar as raízes. Para fazer isso em vasos, qualquer garfo comum serve (cuidado para não espetar as raízes nem deixar bolsões) (Pereira, A., 1978).

2.1.4 – ÁGUA (REGA)
Qual a quantidade de água que devemos dar a uma planta e quando? A quantidade de água que uma planta requer depende fundamentalmente do tipo de planta e do seu modo de vida natural (Kindersley, D., 1984).
É preciso ter sempre em vista o fato de serem as regas excessivas prejudiciais à planta, bem como as escassas (Pena, L. A., 1960).
O excesso pode acarretar uma maior produção de folhagem, mas pode afetar no aroma nas plantas essenciais (ex: manjericão). A falta de água pode ocasionar um estresse na planta provocando uma florada antecipada (ex: endro) (Pereira Pinto, J. E. B. et al., 2001).
Evite regar “pouco e frequentemente”, pois “pouco” pode ser demasiado pouco (só a superfície do composto ficará úmida) e “frequentemente” quase sempre levam a um solo encharcado, em que o ar está ausente (Seddon, G.,1980).
Plantas em vasos impermeabilizados (de cerâmica vitrificada, esmaltada, encerada, etc.) ou de plástico precisam de menos regas do que plantas da mesma espécie acondicionada em vasos porosos, como os de barro comuns (Pereira, A., 1978).
Quando em vasos grandes, as plantas precisam de menos rega do que se estivessem em vasos pequenos, nos quais a reserva seria obviamente menor (Pereira, A., 1978).
Nenhuma planta deve ser regada a intervalos regulares, e sim quando precisar (Pereira, A., 1978). O sinal mais evidente de que uma planta precisa de água manifesta-se nas suas folhas, que se apresentam pendentes ou murchas. Esta indicação não é, contudo, a mais útil, pois pode vir demasiado tarde (Kindersley, D., 1984). A atitude mais razoável consiste em examinar a planta regularmente, uma vez por semana no frio, cotidianamente no calor. Se a superfície do solo parecer seca, enterre o dedo na terra para ver como ele está por baixo. Se o solo estiver seco em profundidade, regue cuidadosamente. Esse método, com um pouco de prática, é relativamente confiável (Seddon, G.,1980).
As plantas têm mais necessidade de água quando dão folhas novas ou quando começam a brotar (Seddon, G.,1980).
A aplicação da água pode ser feita de várias maneiras; no jardim e áreas externas basta usar a mangueira ou o regador de modo que a água caia abundantemente, mas em gotas, sobre as folhas e a terra. Já com plantas de vasos uma boa regra é a de não despejar água sobre as folhas (Pereira, A., 1978). Escolha um regador leve com um bico comprido e estreito que permita orientar o fio de água diretamente para a superfície escondida pela folhagem ou para vasos separados colocados em grupo (Kindersley, D., 1984). Hertwig, I.F.V. (1986), recomenda, no entanto, não molhar as folhas por ocasião das regas para evitar riscos de contaminações.
A água da rega deve ser de boa qualidade, tendo o cuidado para verificar o local onde se coleta esta água (Pereira Pinto, J. E. B. et al., 2001).

2.1.5 – ALTITUDE
Altitude é a altura de uma região em relação ao nível do mar. Na medida em que aumenta a altitude, diminui a temperatura (cerca de um grau a cada 200 metros) e aumenta a intensidade luminosa, interferindo no desenvolvimento das plantas e na produção de princípios ativos (Corrêa Junior, C. et al., 2006; Pereira Pinto, J. E. B. et al., 2001).

2.1.6 - LATITUDE
Refere-se à distância de determinada região em relação à linha do Equador, para o sul ou para o norte. Numa latitude equivalente, norte e sul, o comportamento das plantas é diferente. Por exemplo, no caso da trombeteira (Datura stramonium e Hyoscimus sp), plantas cultivadas em latitude sul são mais ricas em alcalóides que as cultivadas em latitude norte equivalente. As diferenças estão relacionadas, entre outras, com a inclinação da Terra e a influência das correntes marítimas sobre o clima. Devido a esses fatores algumas espécies originárias do hemisfério norte não florescem ou não frutificam no hemisfério sul. Exemplos: alecrim (Rosmarinus officinalis), tomilho (Thymus vulgaris) e erva-doce (Pimpinella anisum) (Corrêa Junior, C. et al., 2006).

2.1.7 – RECIPIENTES
Há dezenas de alternativas para a produção de hortaliças. Vasos de cerâmica, latas velhas, caixas de madeira, concreto armado, pneus, bacias, calhas feitas de canos PVC e até garrafas plásticas do tipo PET. Maiores possibilidades de cultivo proporcionam as floreiras – ou “horteiras” – nas janelas (Guia Rural, 1990; Jornal A Tarde, 2007).
O segredo é garantir que tenham pelo menos um palmo de profundidade (cerca de 20 cm) para a mistura de terra e composto orgânico (Afitema, 2007; Associação Ituana de Proteção Ambiental, 2008; Programa Municipal Fitoviva, 2008).
O cultivo de plantas em vasos e jardineiras requer cuidados e conhecimentos especiais, embora simples, que são em geral ignorados, ocasionando a perda de plantas fáceis de cultivar (Pena, L. A., 1960). Tem grande importância a escolha do material a empregar, dimensões, formas e natureza dos vasos, que devem estar de acordo com os vegetais a cultivar (Pena, L. A., 1960).
Os vasos de barro oferecem maior proteção contra o excesso de água (Kindersley, D., 1984). A evaporação da umidade nos vasos de cerâmica se faz com rapidez, especialmente nos climas muito secos, não só pela superfície da terra contida como pelas próprias paredes dos vasos de barro (Pena, L. A., 1960), portanto plantas em vasos de plástico, de material PVC ou em latas necessitam de regas menos freqüentes que as cultivadas nos tradicionais vasos de cerâmica porosa (Seddon, G.,1980), além da vantagem de não serem frágeis (Pena, L. A., 1960).
Os vasos de concreto armado têm a vantagem da durabilidade e alguma impermeabilidade, aliada aos inconvenientes do preço e do peso. Já os vasos de madeira, relativamente baratos, são pouco duráveis (Pena, L. A., 1960).
Os vasos feitos pneus e garrafas PET além de práticos custam pouco, podendo ser encontrados de graça (Globo Rural, 2006).
Os vasos são normalmente redondos, havendo também quadrados. A escolha desta ou daquela forma é simplesmente uma questão de gosto (Kindersley, D., 1984).
Na escolha das dimensões dos vasos devemos levar em consideração qual a planta pretendemos ali cultivar. A hortelã, por exemplo, consegue se desenvolver em vasos menores, de 20 cm de diâmetro por 20 cm de altura (Guia Rural, 1990). Devem-se usar recipientes de pelo menos 20 cm de profundidade para plantas de altura que não ultrapasse 50 cm, semelhante ao poejo, hortelãs, melissa, macelinha, cânfora-de-jardim e centelha-asiática. Algumas plantas necessitam de profundidades muito maiores como, por exemplo: alecrim, sálvia, manjericão e boldo-da-terra e outras podem ficar nos vasos por certo período de tempo como, por exemplo, louro, sabugueiro e favacão (Programa Municipal Fitoviva, 2008).
Deve haver furos no fundo dos vasos para evitar encharcamentos e uma camada de pedras, de forma a permitir que o excesso de água saia. No fundo do vaso coloque uma ligeira camada de areia mais grossa, ou de cascalhos, ou de caco de vasos ou telhas, para facilitar a drenagem da água para os furos. (Guia Rural, 1990; Programa Municipal Fitoviva, 2008).
Em vasos de plástico com numerosos orifícios pequenos, o material de drenagem raramente é necessário. Num vaso de barro com um furo de drenagem grande é suficiente cobri-lo com um simples caco de barro com o lado côncavo para baixo (Kindersley, D., 1984).

2.1.8 – MISTURAS DE ENVASAR E ABUBAÇÃO
Os centros de jardinagem têm à venda uma grande variedade de misturas de envasar já preparadas (Kindersley, D., 1984).
Seria ao mesmo tempo simples e barato apanhar um pouco de terra em qualquer lado e pô-la num vaso, se com isso se satisfizessem as necessidades das plantas. A terra, porém, varia enormemente em qualidade e textura, e muitas vezes encontra-se contaminada com larvas ou ovos de parasitas e também com sementes de ervas daninhas. Assim, se conhecer uma casa de confiança, é preferível utilizar uma mistura já pronta ou prepara-la (Kindersley, D., 1984).
Uma sugestão é para cada três partes de terra (é bom peneirar antes de usar) acrescente uma parte de esterco de curral bem curtido (quando ele está bem seco). Se for usar esterco de galinha, a proporção será menor: quatro partes de terra e uma de esterco (Guia Rural, 1990).
Outra opção seria para cada 50 litros de terra, use 100 gramas de calcário, 34 litros de esterco bovino curtido e 200 gramas de adubo NPK 4-14-8. Adubações complementares podem ser feitas a cada 30 dias com um copo de 200 ml de adubo orgânico curtido, por vaso ou planta (Marinho, A. G. et al., 2008). Apesar desta recomendação, vale lembrar que o uso de adubos químicos podem alterar a composição da planta, tirando seu valor medicinal e até provocando efeitos negativos na saúde das pessoas e sobre o ambiente (Corrêa Junior, C. et al., 2006).
Uma boa opção, aqui baseado em metragem quadrada de canteiro, é usar 150g de fosfato, fazer a correção básica do solo usando 150g de cal dolomítico e acrescentar 2 litros de húmus; todas as recomendações por metro quadrado de canteiro (Herbário, 2008).
Quem dispuser de meios para fazer o composto orgânico não precisará preocupar-se com a aquisição de adubos ou esterco (Pena, L. A., 1960).
A importância da boa nutrição das plantas é observada em inúmeros trabalhos científicos. Em Phyllanthus niruri L. (quebra pedra) quando se aplicou uma adubação nitrogenada visando maior produção econômica de matéria seca, aumentou também o teor de alcalóides totais na parte aérea (Pereira Pinto, J. E. B. et al., 2001). As proporções entre limoneno, mentona, mentol e metil acetato do óleo essencial da Mentha arvensis L. (menta) são alteradas pelas condições de nutrição da planta (Maia, N. B., 1998).
De modo geral deve-se tomar cuidado para não adubar em excesso as plantas aromáticas. Altas disponibilidades de nutrientes, principalmente do nitrogênio, promovem uma grande produção de massa de folhas, que não é acompanhada pela produção de substâncias importantes do óleo essencial, resultando em plantas bonitas, mas com ouço aroma (Blanco, M. C. S. G., 2007).
Uma adubação equilibrada é a chave para a obtenção de plantas mais resistentes a pragas e doenças, e também com maiores teores de fármacos, sem comprometer a produção de massa verde (Oliveira, E. J. et al., 1999).

2.1.9 – PODA
As plantas podem, por vezes, tornarem-se grandes e desequilibradas, havendo então que recorrer à poda para evitar ou remediar qualquer destas situações (Kindersley, D., 1984).
Podar uma planta não desencoraja o seu crescimento, muito pelo contrário. Os ramos terminais da maior parte das plantas, quando cortados, são logo substituídos por novos brotos (Seddon, G.,1980).
A poda adequada regula a quantidade e a qualidade de flores e frutos. Certas plantas prejudicam a si mesmas e a plantas vizinhas pelo crescimento excessivamente denso dos próprios ramos e folhas. A poda criteriosa, nesses casos, é uma prevenção higiênica, que facilita a respiração, a transpiração e a iluminação e, desse modo, dá à planta melhores condições de proteção às doenças (Pereira, A., 1978).

2.1.10 – PROPAGAÇÃO
A obtenção de mudas para o plantio pode ser feita de diversas maneiras. Por sementes ou por um dos métodos de propagação vegetativa, que são aqueles que envolvem outras partes da planta (Corrêa Junior, C. et al., 2006).
Na revisão bibliográfica das plantas medicinais estão indicados os métodos de propagação das mesmas.

2.1.11 – PRAGAS E DOENÇAS
A melhor maneira de preservar a saúde das plantas é proporcionar-lhes boas condições de desenvolvimento, pois os problemas, na sua maioria, têm origem em cuidados inadequados (Kindersley, D., 1984).
As pragas são os insetos que atacam as plantas, comendo suas folhas e brotações tais como as lagartas, vaquinhas e besouros, ou sugando a seiva da planta, como os pulgões, percevejos, cochonilhas, tripes ou parasitando os frutos como as larvas de moscas e mariposas, ou ainda cavando galerias no caule, como as larvas de borboletas, mariposas e certas espécies de besouros conhecidos como “brocas” (Giacometti, D. C., 1983).
As doenças têm vários agentes causadores: os fungos geralmente causam manchas nas folhas, podridões tanto das raízes como da parte aérea, inclusive dos frutos; as bactérias cujos danos se assemelham àqueles causados pelos fungos; os nematóides, pequenos vermes do solo que atacam as raízes. Os vírus são microrganismos presentes no interior da planta, invisíveis mesmo pelo microscópio comum e podem causar perdas parciais ou totais (Giacometti, D. C., 1983).
Grande parte das doenças resulta de um cultivo deficiente, e as suas causas mais comuns são fatores como um ar excessivamente seco ou úmido, a falta de arejamento entre plantas próximas e excesso de água. De uma maneira geral, é fácil tratar estes problemas uma vez detectados. É, porém, mais difícil proteger as plantas da enorme variedade de pragas suscetíveis de as atacarem (Kindersley, D., 1984).
Crie o hábito de examinar suas plantas quando as aguar, adubar ou simplesmente ao admirá-las; desse modo você descobrirá imediatamente as anomalias, se houver. E não esqueça que as folhas têm faces inferiores (Seddon, G.,1980).
Considerando a tendência mundial da busca por produtos naturais e sendo as plantas medicinais destinadas a pessoas com algum tipo de debilidade, é fundamental que estejam livres de agroquímicos. Os processos de secagem e extração podem concentrar os agrotóxicos. O uso de adubos químicos e de agrotóxicos podem alterar a composição da planta, tirando seu valor medicinal e até provocando efeitos negativos na saúde das pessoas e sobre o ambiente (Corrêa Junior, C. et al., 2006).
Para o controle específico das pragas e doenças mais comuns nas plantas medicinais, recomenda-se a leitura das seguintes publicações: Alternativas ecológicas para prevenção e controle de pragas e doenças, BURG & MAYER (1999); Práticas alternativas de controle de pragas e doenças na agricultura (Coletânea de receitas), de ABREU JUNIOR (1998) e Receituário caseiro: alternativas para controle de pragas e doenças de plantas cultivadas e de seus produtos, GUERRA (1985) (Corrêa Junior, C. et al., 2006).
Pode-se ir, também, a um centro de jardinagem ou a algum comércio de produtos agropecuários e pedir orientações ao responsável.

2.1.12 – COLHEITA
Todo um trabalho de cultivo e manejo pode se perder quando não se dá a devida atenção às etapas de colheita, secagem, embalagens e armazenagem (Pereira Pinto, J. E. B. et al., 2001).
O ponto de colheita varia segundo órgão da planta, estádio de desenvolvimento, época do ano e hora do dia. A distribuição das substâncias ativas, numa planta, pode ser bastante irregular, assim, alguns grupos de substâncias localizam-se preferencialmente em órgãos específicos do vegetal (Paróquia Santuário São Leopoldo Mandic, 2008).
Embora cada espécie tenha suas necessidades específicas, há diretrizes gerais para a colheita destinadas ao uso medicinal. Quando as folhas são a parte da planta a ser usada no preparo de um remédio, como as da Urtica dióica (urtiga), por exemplo, devem ser colhidas logo que a planta começa a florir. Quando as flores são a parte usada, como as da Calendula officinalis (calêndula), por exemplo, devem ser colhidas quando estiverem completamente abertas. Quando partes do sistema radicular devem ser usadas, então devem ser colhidas assim que as partes aéreas da planta começarem a murchar (Eldin, S. et al., 2001).
Deve-se fazer a colheita com tempo seco, de preferência, e sem água sobre as partes, como orvalho ou água nas folhas. Assim a melhor hora da colheita é pela manhã, logo que secar o orvalho das plantas. Evitar a colheita de plantas doentes, com manchas, fora do padrão, com terra, poeira, órgãos deformados, etc. (Paróquia Santuário São Leopoldo Mandic, 2008).
Deve-se salientar que a colheita das plantas em determinado ponto tem o intuito de obter o máximo teor de princípio ativo, no entanto, na maioria das vezes, nada impede que as plantas sejam colhidas antes ou depois do ponto de colheita para uso imediato. O maior problema da época de colheita inadequada é a redução do valor terapêutico e/ou predominância de princípios tóxicos, como no confrei (Symphitum ssp.) (Herbário, 2008).
As plantas medicinais devem ser colhidas em locais limpos e sem contaminação, para que não haja necessidade de lavar. As flores e folhas não devem ser lavadas, se houver necessidade secar rapidamente com um pano limpo. As cascas são raspadas para retirar a sujeira e cortadas em tiras para secarem mais rápido. As raízes são lavadas e cortadas em fatias bem finas. Retirar as partes da planta que estejam amareladas, enrugadas ou com algum sintoma de doença (Coletto, L. M. M. et al., 2008).
Várias são as plantas que a colheita pode ser na medida do seu consumo. Sendo o recomendado colher de acordo com a necessidade, como a Mentha sp., Ocimum basilicum, Cymbopogon citratus (Guia Rural, 1990).
O consumo de plantas medicinais frescas garante ação mais eficaz dos princípios curativos, entretanto, nem sempre se dispõe de plantas frescas para uso imediato(Paróquia Santuário São Leopoldo Mandic, 2008).
A secagem pode ser feita de muitas maneiras; quando o clima é adequado, as plantas podem ser postas ao ar livre, mas onde faz muito frio ou há muita umidade as plantas são colocadas para secar em galpões especiais, onde as condições podem ser controladas com grande precisão. Isso tem a vantagem de que o processo de secagem pode ser muito rápido e o resultado mais uniforme. A cor das folhas em geral é preservada, assim como o perfume das espécies aromáticas. As plantas medicinais secas ao ar livre – isto é, aquelas guardadas em sacos de pano, fardos, sacos de papel etc. ainda vão reter aproximadamente 10% de água; se lhes for permitido absorver mais ar úmido, podem deteriorar (Eldin, S. et al., 2001).
Na revisão bibliográfica referente ao cultivo das espécies, as informações relacionadas à colheita serão abordadas especificamente para cada espécie.

2.2 – QUANTIDADES E UNIDADES DE MEDIDAS
Ao utilizarmos uma planta medicinal, ela pode estar fresca ou seca, portanto, dependendo do estado em que ela se encontra, vamos utilizar quantidades diferentes. Uma planta após secagem pode perder metade do seu peso inicial, devido a perda de água. Desta forma ao utilizar uma planta fresca devemos usar o dobro da quantidade da planta seca (Programa Municipal Fitoviva, 2008).
Muitas vezes encontramos a citação da quantidade da planta em peso ou do volume a ser utilizada, mas às vezes não dispomos de uma balança em nossa casa. Para medir volumes podemos usar uma mamadeira que vem com a indicação do volume ou então utilizar correspondências aproximadas, como as sugeridas: (Programa Municipal Fitoviva, 2008).
Para outras medidas, pode-se basear na seguinte relação:

● Segundo Coletto, L. M. M. et al.(2008):
1 colher pequena......................................... 4-6 g de raízes seca e triturada
1 colher pequena......................................... 1-6 g de folhas secas e trituradas
1 colher grande............................................ 8-10 g de raízes secas e trituradas
1 colher grande............................................ 3-5 g de folhas
1 pitada ....................................................... 1-2 g de flores ou sementes

● Segundo Oliveira, R. M. S. C. de (2006); Paróquia Santuário São Leopoldo Mandic (2008) ; Herbário, (2008):
1 colher de chá de raízes secas = 4 g
1 colher de chá de folhas verdes (frescas) = 2 g
1 colher de sopa de raízes ou cascas secas = 20 g
1 colher de sopa de folhas verdes (frescas) = 5 g
1 colher de sopa de folhas secas = 2 g

2.3 – IDENTIFICAÇÃO
Quando se pensa em trabalhar com plantas medicinais, seguramente o principal cuidado a ser tomado é a correta identificação da espécie (Almassy júnior, A.A. et al., 2005).
Uma situação curiosa e até perigosa é o fato de uma mesma planta possuir um ou mais nomes populares ou, ainda, diversas plantas possuírem o mesmo nome popular. Um exemplo é o caso do nome popular “erva cidreira” utilizado para três espécies diferentes: Cymbopogon citratus, Melissa officinalis e Lippia alba. Outro exemplo muito comum é chamar “hortelã pimenta” tanto para Ocimum gratissimum quanto para Mentha sp, porém, as duas possuem óleos essenciais com composição diferente (Corrêa Junior, C. et al., 2006).
Os nomes populares das plantas variam de um país para outro, de uma região para outra dentro do mesmo país e até na mesma cidade (Pereira, A., 1978). É necessário tratar a planta pelo nome científico. A identificação segura, com o binômio latino correto poderá ser feita por botânicos, agrônomos ou profissionais com experiência na área (Corrêa Junior, C. et al., 2006).
A revisão bibliográfica das plantas medicinais começa justamente com a sua descrição botânica, e ao fim da revisão bibliográfica geral há o glossário de termos botânicos e desenhos representativos de algumas partes de uma planta, de forma a facilitar a identificação correta das espécies.

Um comentário:

Horta atlântica disse...

-caro Rudolfo,
permita me que o trate assim, pois gostaria de estabelecer um diálogo consigo já que o assunto que versa neste seu blogue me é extremamente íntimo.
tenho algumas dúvidas que gostaria de lhe colocar e a primeira prende se já com um pormenor relativo à ruta graveolens que tenho andado a propagar no meu campo. Na sua posologia alerta para a toxicidade e no entanto parece contradizer se quando manda tomar em infusão ou decocção.

saudações medicinais